O INSTITUTO WALINGA E O COMPROMISSO COM A INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA

1. José Vicente Cacuchi

Instituto Superior Politécnico Privado Walinga d Moxico

2. Bendito Guilherme Muhusso

Instituto Superior Politécnico Privado Walinga do Moxico

https://orcid.org/0009-0000-1563-5349

Palavras-chave:

Revista Científica Walinga, Investigação, Universidades

Resumo

Após a sua primeira edição impressa, em 2022, o Instituto Superior Politécnico Privado Walinga do Moxico lança a segunda edição da Revista Científica (Volume 2, N.º 1), e desta vez, no formato online e indexada à base de dados internacional Zenodo, disponibilizando para a comunidade académica e a sociedade em geral, o conhecimento de acesso aberto.

São conhecidos e reconhecidos, no contexto actual, os vários desafios subjacentes à produção e à partilha de conhecimento científico. Tais desafios, estão relacionados aos factores de natureza institucional, às questões de ordem empírica, aos fenómenos da globalização, às mudanças tecnológicas impostas pela Inteligência Artificial e às demandas da própria sociedade, motivadas por problemas de ordem política, económica, social e cultural. Apesar destes factores, que tornam o processo de produção científica complexo, o Walinga assume essa responsabilidade como sua nobre missão e se compromete a desenvolver e promover actividades e projectos científicos, tomando o papel de agente de transformação social.

Assim sendo, a Revista Walinga (RW) e o Centro de Estudos e Investigação Científica do Instituto Walinga (CEIC-W), constituem dois espaços considerados como recursos e repertórios estratégicos, através dos quais o Instituto Walinga produz, partilha e difunde os resultados de suas actividades científicas. Os docentes, investigadores, discentes e a sociedade em geral, encontram neste espaço a oportunidade para o debate, a reflexão, a partilha e a apropriação do conhecimento de forma aberta, livre e facilitada.

O Papel Central da Universidade no Contexto da Sociedade do Conhecimento

José Vicente Cacuchi.

No contexto da Sociedade do Conhecimento emerge um novo papel para a Universidade, expandindo o seu foco tradicional à formação e capacitação (ensino e pesquisa), e agregando à sua missão a intervenção directa no processo de desenvolvimento social, económico e cultural da sociedade. Neste sentido, a relação com a sociedade é, sem dúvida, uma questão central da actuação da universidade. O Instituto Superior Politécnico Privado Walinga do Moxico, pretende ser, neste sentido, um ensaio favorável.

É recorrente no movimento docente, o argumento de que as universidades estão a viver uma crise sistémica. Esse argumento ganha uma dimensão mais ampla, principalmente quando os docentes reivindicam identidade social. Eu não faço parte desta parcela que acredita que as universidades estão a passar por uma "crise". Pelo menos não na acepção sociológica do termo, onde "crise" é sinónimo de uma situação repleta de problemas e a conjuntura é totalmente desfavorável. Quem não vê, hoje, o valor das universidades no nosso contexto social angolano?

Mas isso não quer dizer que estamos a viver momentos de júbilo e regozijo. Pelo contrário: temos muitos problemas a enfrentar. Mas deixemos as aporias neste momento em stand by para falarmos das boas possibilidades das universidades, principalmente daquelas que estão comprometidas com a actualidade do homem angolano. Aproveitemos a experiência intelectual dos nossos distintos prelectores na ânsia de nos revermos no ideal típico de uma academia universitária.

A universidade é sempre expressão mundividente da sociedade; deve oferecer, por isso, respostas concretas aos problemas da sociedade. Uma dessas formas é feita através da extensão universitária. Em princípio, actividade de extensão deve ser fruto da sintonia da universidade com questões de relevância social e cultural. Mas a consistência das respostas que podem ser oferecidas à sociedade depende do grau de envolvimento da academia com essas questões. Para isso, precisamos de incentivar a integração e a articulação dos grupos de pesquisa, em áreas de grande interesse social e moral, como aliás corresponde à natureza deste Instituto. Só assim estaremos a ampliar as fronteiras entre a universidade e a sociedade.

Ampliar as fronteiras entre a universidade e a sociedade significa propor a abertura da universidade para a sociedade. Isso implica estabelecer políticas para defender e compartilhar os bens comuns, que são os conhecimentos e os saberes. São funções tanto da sociedade como da universidade, colocar o conhecimento e o saber ao serviço da democracia e da justiça social. Sabemos que em Angola, os elos entre as universidades e a sociedade estão mais voltados para alguns segmentos específicos, sobretudo os sectores produtivos e quase nada a ver com a questão essencialmente antropológica na perspectiva do tal apregoado resgate dos valores morais', por exemplo.

É importante reforçar a ideia de que as universidades precisam de privilegiar políticas e acções, pesquisas e actividades de extensão, que a aproximem de segmentos da sociedade angolana e de seus movimentos identificados pela exclusão social e distanciados desse espaço público de produção de conhecimento e da cultura. Precisamos de ampliar a relação das universidades com o mundo do trabalho, com as organizações sociais e com os movimentos populares e sociais. Mas também é função das universidades garantir o acesso adequado e permanente dos trabalhadores à produção científica acumulada no âmbito académico.

E nada mais significativo para ampliar as fronteiras das universidades do que estimular o desenvolvimento especializado das valências académicas prestando mais atenção ao valor do dado científico como tal mesmo que isto signifique, de certa maneira, frustração do nosso desejo de conceber uma estrutura universitária a nossa imagem e semelhança.

Mas se precisamos de construir uma nova política de desenvolvimento, precisamos também de elaborar uma nova política para as universidades angolanas. Aliás, como de resto tem enfatizado o executivo que nos governa, pondo insistente acento na urgência ética no domínio de toda busca de conhecimento que se pretende humanizador. É aqui é que a dimensão pacificadora do país ganha realce.

A universidade não se pode esquivar ao seu compromisso de "mensageira, digo eu, erguendo firmemente a bandeira não só da famosa e cerrada declaração dos direitos humanos, mas também do anúncio do homem como "um sistema aberto". Atrevo-me a dizer que esta dimensão, para nós angolanos, é absolutamente necessária, se quisermos repor a consciência antropológica quase já cauterizada.

O animal sabe. Mas, certamente ele não sabe que sabe: de outro modo teria há muito multiplicado invenções e desenvolvido um sistema de construções internas. Consequentemente, permanece fechado para ele todo um domínio Real, no que nos movemos. Em relação a ele, por sermos reflexivos, não somos apenas diferentes, mas outros. Não só simples mudança de grau, mas mudança de natureza, que resulta de uma mudança de estado. Assim, a conscientização faz do homem um ser dinâmico, eterno caminhante destinado à procura e ao encontro da realidade. Caminhante cuja estrada é feita da harmonia e do conflito com o ser, o saber e o fazer, dimensões essenciais da existência humana.

O O Instituto Walinga e o compromisso da investigação científica como tema desta edição da Revista Walinga, pretende ser um desafio ao compromisso dos docentes e discentes deste Instituto Superior Politécnico Privado Walinga do Moxico cuja natureza está justamente enraizada na questão social e ética do homem angolano. Procuremos não desperdiçar esta oportunidade académica, aproveitemos do saber dos nossos distintos pesquisadores o sabor da verdade que parece já escassear na nossa sociedade. Com estas palavras, declara-se aberta a segunda edição da revista científica do Instituto Superior Politécnico Privado Walinga do Moxico.

Publicado
19-02-2024
Como Citar:
Edição

Vol. 2 Nº 1 ( 2024): Janeiro-Junho: O Instituto Walinga e o Compromisso da Investigação Científica

Secção
Artigos